Existem poucos diretores no mundo que sabem filmar crianças. Mas existem menos ainda aqueles que sabem entendê-las dentro desse comungado primeiro contexto social, a família. O japonês Hirokazu Koreeda não apenas está em ambas as seletas listas, como é certamente um dos diretores mais importantes da contemporânea cinematografia asiática graças a uma extraordinária consciência de que a imagem é sempre um recorte organicamente ideológico. Em Pais e Filhos, prêmio do Juri em Cannes este ano, Koreeda nos arrebata com um drama cujo grande ponto de virada é justamente a percepção desse recorte por um dos personagens do filme. Há alguém além do próprio diretor que está ali, registrando cenas. E quando um dos protagonistas, objeto desse registro, se nota nas imagens captadas por uma máquina fotográfica, ele finalmente entende a dimensão ideológica de sua representação.
O diretor volta neste filme ao que parece ser tema central em sua obra: a família em sua relação mais íntima de códigos, hábitos e condutas, tal como um dia fez Yasujirô Ozu em seu cinema. Mas ao contrário do mestre Ozu, Koreeda parece ser menos complacente às idiossincrasias familiares e certamente bem menos otimista. Em Pais e Filhos, existem duas famílias, cujos caminhos se cruzam depois que se descobre que houve uma troca de bebês no hospital. Os meninos trocados, agora com seis anos de idade, ainda não têm idade suficiente para fazer escolhas. Responsáveis por essas escolhas estão seus pais, colocados diante da difícil decisão de trocar, ou não, seus filhos.