Ela é um filme tão bom quanto um peça publicitária que te convence a precisar urgentemente de um produto não por aquilo que ele é, mas pelo que ele pode ajudar você a ser. Não digo com isso que se trata de um filme charlatão, ou mesmo um filme sem cinema dentro dele, até porque existem reais qualidades cinematográficas nessa história. Digo sim que se trata de um filme que se vende como uma fábula filosófica pronta para ser extensivamente debatida por colunas de opinião quando, na verdade, é uma fábula sobre os caminhos e processos que hoje levamos para debater essas questões pretensamente filosóficas engolidas como cápsulas de sabedoria instantânea. Ou seja, não são as questões, mas como – com que ritmo e estética – as perguntas são feitas.
É em elementos como o apartamento de decoração modulada, o escritório clean e o figurino e bigode hipster do protagonista que estão os verdadeiros debates desse novo trabalho de Spike Jonze. Para colocar na mesa temas como solidão, carência afetiva, conceito de amor e particularmente a crescente sensação de que não mais existimos fora do ambiente virtual, Jonze usa a mesmíssima moldura que adotam os cartazes hoje compartilhados pela timeline mais próxima de você. Tudo é agradável, limpo, às vezes até fofo, a luz tem com frequência um filtro nostálgico, mas, claro, uma nostalgia esterilizada pelo digital. É o futuro tal como ele foi desenhado pela Apple ou pelo Google Glass. Vejo mais conteúdo no uso dessa estética como mecanismo de linguagem das aflições contemporâneas que nas aflições por si sós, isoladas dessa moldura. Ela é, sobretudo, um filme-tipografia, um filme-design. E as verdadeiras questões surgem daí.