Ninfomaníaca, de Lars Von Trier

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Ao menos no que concerne aos 118 minutos de filme apresentados ao público nesse momento, não basta dizer que Ninfomaníaca é um trabalho moralista. Nem mesmo seria suficiente afirmar que esse moralismo transparece justamente numa história em que a protagonista mulher é, como o título sugere, viciada em sexo. A questão mais séria nesse primeiro capítulo do novo filme de Lars Von Trier é que em nenhum momento o sexo, isolado de qualquer valor social, é filmado pelo que deveria ser o elemento mais substancial e elementar na motivação de sua personagem central: o prazer. Restará a ele apenas a função de pecado.

Dessa forma, o que vemos na Ninfomaníaca que chega agora aos cinemas é um filme de pincéis católicos. Com direito mesmo a uma figura masculina representando o papel do confessor. Para falar de sexo, Lars Von Trier vai falar de culpa. Mais de dois mil anos de Cristianismo e parece que poucos conseguem se livrar dela. De qualquer forma, ainda assim não seria exatamente um problema para o filme ter a dita cuja no epicentro de sua narrativa. Mas é estupidamente perigoso não problematizá-la. Até porque, nesse campo, já se tem em abundância os falsos orgasmos hollywoodianos.

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O Menino e o Mundo, de Alê Abreu

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Brinquedos coloridos como brinde de uma alimentação hidrogenada, crianças sendo usadas para fazer sorridentes propagandas de bancos, escolas que oferecem aos pais vigilância total de seus filhos, meninas de rosa e meninos de azul sendo criados atrás das grades de condomínios seguros. Nos muros, o murro. Não é fácil ser uma pequena pessoa em formação nesses dias de vitrines tinindo um mundo em que é preciso ter e trancar. E eis que diante de toda essa animosidade, Alê Abreu faz uma animação que nos enche de ar e de ideias. Como se fôssemos balões de hélio soltos na atmosfera, nessa alegria-airgela de entender que a nossa maior liberdade sempre será nossa consciência crítica. E sim, estou falando de um filme infantil.

Alê, que vem de um longo trabalho com animações (quatro curtas e um longa) sempre muito cientes e cronistas desse estado delicado de coisas e sistemas, nos entrega um filme nada menos que emocionante, com o perdão pela simplicidade da defesa. É que talvez os elogios precisem ser mesmo descomplicados para que possam ser consoantes com o filme em questão. Porque é no simples onde O Menino e o Mundo se torna requintado e grandioso. Faz isso partindo da história de um menino que foge de casa à procura de seu pai. Nesse caminho, vemos se descortinar a evolução de uma criança que vai achando ela mesma nessa busca pelo outro enquanto observa a alma do mundo adquirir uma estranha e gigante engenharia mecânica.

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