Ao menos no que concerne aos 118 minutos de filme apresentados ao público nesse momento, não basta dizer que Ninfomaníaca é um trabalho moralista. Nem mesmo seria suficiente afirmar que esse moralismo transparece justamente numa história em que a protagonista mulher é, como o título sugere, viciada em sexo. A questão mais séria nesse primeiro capítulo do novo filme de Lars Von Trier é que em nenhum momento o sexo, isolado de qualquer valor social, é filmado pelo que deveria ser o elemento mais substancial e elementar na motivação de sua personagem central: o prazer. Restará a ele apenas a função de pecado.
Dessa forma, o que vemos na Ninfomaníaca que chega agora aos cinemas é um filme de pincéis católicos. Com direito mesmo a uma figura masculina representando o papel do confessor. Para falar de sexo, Lars Von Trier vai falar de culpa. Mais de dois mil anos de Cristianismo e parece que poucos conseguem se livrar dela. De qualquer forma, ainda assim não seria exatamente um problema para o filme ter a dita cuja no epicentro de sua narrativa. Mas é estupidamente perigoso não problematizá-la. Até porque, nesse campo, já se tem em abundância os falsos orgasmos hollywoodianos.