Las Acacias, de Pablo Giorgelli

acacias

Las Acacias é aquele tipo de filme que vai te levando pra algum lugar cujo destino não importa, porque o trajeto se encerra e se abre nele mesmo. E aí, eis que depois de muito tempo andando de mãos dadas nesse caminho, os créditos finais sobem e você subitamente sente falta dessa mão que te guiava tranquila pela estrada. Bate uma tristeza, porque a companhia lhe era agradável. Mas bate também uma alegria mal contida em saber que todo final pode ser sempre só o começo.

Produção argentina (com uma ajudinha espanhola), esse é o primeiro longa e a primeira ficção do diretor Pablo Giorgelli. Venceu o Caméra d’or em Cannes de 2011 e somente agora conseguiu uma brechinha para estrear em algumas salas brasileiras (dia 6 de setembro, favor anotar e colocar alarme). Foi um filme pensado durante cinco anos antes de ser realizado, dois desses dedicados exclusivamente a criar o roteiro.

Esse tempo em banho-maria foi o suficiente para que Giorgelli escrevesse uma história sobre três personagens que começam a se comunicar timidamente dentro da cabine de um caminhão, em um percurso que dura mais de mil quilômetros, entre uma cidade no interior do Paraguai e Buenos Aires.

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Frances Ha, de Noam Baumbach

Frances Ha

Antes de falar sobre Frances Ha, esse filme que nos últimos dias invadiu a timeline de qualquer rede social que porventura você acesse, um prefácio:

Pois bem, solte os braços, as pernas e o sorriso. Modern Love, de David Bowie, está de volta às telas em um tributo não apenas ao filme acima, Mauvais Sang, de Leos Carax, mas a um cinema com o pouco discreto, meio atarantado até, charme da burguesia. A burguesia falida que não consegue mais pagar aluguel. E a grande musa dessa classe de moças que não consegue pensar no futuro porque o presente já ocupa tempo demais não se chama Lena Dunham (sim, desculpem, a referência à Girls era inevitável, vocês já devem ter lido 30 vezes essa comparação). Seu nome é Greta Gerwig, a Frances que dá título ao filme e co-roteirista dessa feliz produção que, só pra melhorar, é parte brasileira também.

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Esse Amor que nos Consome, de Allan Ribeiro

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Exú, orixá do movimento, do corpo que vai, o mensageiro na porta que só dá quando recebe, mas quando recebe sabe dar. É ele quem protege a casa de fachada azul desbotada, três andares no meio do concreto pesado, alto e cinza do centro do Rio de Janeiro. Com a fumaça de seu charuto, ele afasta o mal olhado da especulação imobiliária, do capital. E preserva o espaço da arte, da poética e, claro, dos corpos em movimento.

Esse Amor que nos Consome, de Allan Ribeiro, é um filme que dialoga com o discurso da urbanização, até onde o homem vira cimento, até onde o cimento se torna humano. Em breves linhas, trata-se de uma ficção documental, gênero cada vez mais experimentado no cinema brasileiro, sobre um grupo de dança que tenta se fixar em um casarão enquanto ele não é vendido (pelo nada módico preço de R$ 1 milhão). Sem dinheiro para adquirir a casa, eles vão ficando. Enquanto isso, interessados no imóvel vão e vem, observando desconfiados aqueles dançarinos.

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