Frances Ha, de Noam Baumbach

Frances Ha

Antes de falar sobre Frances Ha, esse filme que nos últimos dias invadiu a timeline de qualquer rede social que porventura você acesse, um prefácio:

Pois bem, solte os braços, as pernas e o sorriso. Modern Love, de David Bowie, está de volta às telas em um tributo não apenas ao filme acima, Mauvais Sang, de Leos Carax, mas a um cinema com o pouco discreto, meio atarantado até, charme da burguesia. A burguesia falida que não consegue mais pagar aluguel. E a grande musa dessa classe de moças que não consegue pensar no futuro porque o presente já ocupa tempo demais não se chama Lena Dunham (sim, desculpem, a referência à Girls era inevitável, vocês já devem ter lido 30 vezes essa comparação). Seu nome é Greta Gerwig, a Frances que dá título ao filme e co-roteirista dessa feliz produção que, só pra melhorar, é parte brasileira também.

Tendo isso dito, Frances Ha, do diretor Noam Baumbach (A Lula e a Baleia), é cheiro de cebola e manteiga na panela, é poder dormir até tarde no sábado. Em suma, é tudo aquilo que há de feliz nos movimentos cotidianos, banais e familiares. Não que este filme seja uma comédia, ou comédia romântica para todos os efeitos, ou mesmo seja um filme feliz. Mas é um filme que faz bem.

Porque 1) não subestima a inteligência do desastre que é a vida real, 2) faz piada inteligente de quem superestima e glamouriza o desastre que é a vida real, 3) tem diálogos que dava pra fazer de ímã de geladeira (mas não façam isso crianças, porque é hipster demais), 4) traz uma direção de fotografia em preto e branco que dá raiva de tão linda e precisa, 5) nos apresenta dignamente (porque seus filmes anteriores não merecem ser mencionados) essa joia que é Greta Gerwig.

No papel de uma jovem adulta de 27 anos cuja única relação concreta se dá com sua melhor amiga de faculdade, Sophie (Mickey Sumner), ela lida diariamente com um conceito cada vez mais cotidiano, banal e familiar à sua/nossa geração: o fracasso. A cidade grande, neste caso Nova York e um tiquinho de Paris, apenas ressaltam esse descompasso entre você e a sua fictícia versão de capa de revista.

Frances dança, ou menos tenta dançar, e quer pagar as contas com isso. “Viva seu sonho”, dizem os poetas (leia-se cartazes de autoajuda), mas nada é simples assim. Ainda bem, caso contrário teríamos soluções antes de problemas e nossas pequenas tragédias pessoais perderiam a graça. Daí ela dança seu sonho. E tal como os melhores bailarinos, cai, só porque sabe que depois consegue se levantar.

Em tempo: Greta lembra algo de Alicia Silverstone (com mais carne) e sua expressão um tanto demente cai como uma luva à personagem.

Sem mais, corram pro cinema como se Modern Love fosse a trilha sonora da sua vida. Quem sabe não é?

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