Azul É a Cor mais Quente, de Abdellatif Kechiche

Adele.c

Azul É a Cor Mais Quente é uma história de amor como qualquer outra. Mas assim como qualquer história de amor, é uma história como poucas. Para filmá-la, Abdellatif Kechiche estabelece um só critério como motor narrativo: o desejo. Existem várias outras medidas para contar a trajetória de um casal, mas claro está que o diretor, tendo ele mesmo esse olhar lúbrico diante de suas atrizes, está ali para tratar primordialmente do desejo, tesão, da pulsão dos corpos que colidem e se atraem.

Para tocar nisso, Kechiche usa de suas longas lentes e alcança os closes mais fechados possíveis nos rostos de seus personagens, dando significados extras a qualquer movimento dos olhos e das bocas insistentemente focadas. A ausência ou o transbordamento do tesão será visto em planos que namoram esses detalhes.

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Jogos Vorazes – Em Chamas, de Francis Lawrence

hunger games

A heroína dessa história, símbolo maior da revolução que nasce contra o sistema, tem salientes bochechas e dois namorados. Ela está de bem com seu semblante renascentista e eles estão de boa em dividir os beijos da moça. Pra quem vinha de uma série adolescente machista e antiquada como a saga Crepúsculo e seus vampiros vegetarianos, a franquia Jogos Vorazes chega a ser um respiro de alívio. Talvez agora meninas do mundo inteiro possam entender que, muito melhor que arrumar um casamento pra eternidade (500 anos depois, Bella continuaria lavando a cueca de Edward) é ser musa de uma revolução social sem se preocupar com dietas e, de quebra, usufruindo da glória de ser uma Dona Flor em tenra idade.

Somente por isso esse filme já ganha pontos na minha milhagem. E sim, estou julgando a obra antes pelo efeito que ela pode ter em seu público alvo de adolescentes do que pelo que realmente ela apresenta enquanto entretenimento e alguma faísca de reflexão pós movimentos occupy isso e occupy aquilo. Quanto ao filme em si, vamos aos fatos.

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Blue Jasmine, de Woody Allen

Blue Jasmine

Os personagens já conhecemos. Suas paranoias, inadequações, frustrações e, principalmente, aquela particular negação de todos os problemas que não sejam os seus. De volta à casa, os Estados Unidos (neste caso numa dobradinha Nova York/São Francisco), Woody Allen retoma também as piadas com as idiossincrasias dos que vivem de pontes aéreas internacionais, jantares milionários e álcool, muito álcool que é para o sorriso se manter sempre disposto. No resgate daquela extrato social que ele tão bem filmou em Match Point, Allen faz um roteiro quase que no automático, as ironias se repetem. O resultado poderia facilmente cair no mais do mesmo. Mas eis que entra em cena Cate Blanchett. E sua Blue Jasmine fará deste filme uma das obras mais irresistíveis da prolífica carreira de Woody Allen.

Porque se por aqui tá cada vez mais down a high society dos “reis dos camarotes”, na leitura que Cate Blanchett faz dessa falência moral da alta sociedade, a chacota adquire tom de arte. E o filme muito acertadamente se cerca dela para contar sua história. Blanchett cria essa mulher que anda de salto alto sobre a corda bamba na qual sua vida se transformou desde que seu marido, e mantenedor de todos os seus luxos, foi preso pela polícia graças a um gigante esquema de sonegação de impostos. O desequilíbrio é inevitável, mas o talento da atriz está em fazer a gente acreditar que o perigo está no controle, e não na queda.

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Entrevista: Irandhir Santos (Tatuagem)

Irandhir

Para citar um antagonismo de seu personagem no filme de Hilton Lacerda, ele é a práxis e a epifania no mesmo lugar. Um ator metódico no exercício de seu ofício e melódico na manifestação dele. Em cena, Irandhir Santos é música para os olhos. No cinema, seu nome começou a circular depois de seu Maninho em Baixio das Bestas, de Cláudio Assis. No mesmo ano, assustou o país (desses sustos bons, susto de deslumbramento) com sua versão de Quaderna na minissérie global A Pedra do Reino. É protagonista em O Som ao Redor, filme escolhido pelo Brasil para ser pré-indicado ao Oscar, e agora volta aos cinemas com o Clecinho de Tatuagem, personagem que é, ele próprio, um ator. Já havia conversando com o diretor Hilton Lacerda sobre Clécio, e agora é a vez do próprio Irandhir contar a sua versão da história.

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