Brinquedos coloridos como brinde de uma alimentação hidrogenada, crianças sendo usadas para fazer sorridentes propagandas de bancos, escolas que oferecem aos pais vigilância total de seus filhos, meninas de rosa e meninos de azul sendo criados atrás das grades de condomínios seguros. Nos muros, o murro. Não é fácil ser uma pequena pessoa em formação nesses dias de vitrines tinindo um mundo em que é preciso ter e trancar. E eis que diante de toda essa animosidade, Alê Abreu faz uma animação que nos enche de ar e de ideias. Como se fôssemos balões de hélio soltos na atmosfera, nessa alegria-airgela de entender que a nossa maior liberdade sempre será nossa consciência crítica. E sim, estou falando de um filme infantil.
Alê, que vem de um longo trabalho com animações (quatro curtas e um longa) sempre muito cientes e cronistas desse estado delicado de coisas e sistemas, nos entrega um filme nada menos que emocionante, com o perdão pela simplicidade da defesa. É que talvez os elogios precisem ser mesmo descomplicados para que possam ser consoantes com o filme em questão. Porque é no simples onde O Menino e o Mundo se torna requintado e grandioso. Faz isso partindo da história de um menino que foge de casa à procura de seu pai. Nesse caminho, vemos se descortinar a evolução de uma criança que vai achando ela mesma nessa busca pelo outro enquanto observa a alma do mundo adquirir uma estranha e gigante engenharia mecânica.