A questão Palestina/Israel, como todas as questões de territórios vizinhos e inimigos, vem rendendo ao cinema um sem número de narrativas românticas com base naquela premissa da tese (o amor), antítese (a proibição ao amor) e síntese (a resposta, muitas vezes violenta, à proibição) de Romeu e Julieta. Além da Fronteira não foge ao modelo. A estreia do diretor Michael Mayer em um longa segue esse arquétipo do amor proibido e traz uma leitura que começa afetuosa entre dois personagens inseridos no contexto da pouco afetiva relação entre palestinos e israelenses no campo dos acordos políticos.
Começa, mas não termina. Pois que no terceiro ato do filme, eis que esses acordos políticos do amor cedem cansados a um thriller em que pipocam juízos de valor sobre o “ser” palestino, cujo núcleo familiar soa primitivo e intolerante, e o “ser” israelense, dos pais requintados e liberais. E aí vem o pacote de cenas de perseguição, ligações obscuras e uma série de improváveis malabarismos narrativos para conseguir levar o filme a um desfecho qualquer.
A exemplo do desastroso The Bubble, outro longa que se atém a uma história de amor entre um rapaz palestino e outro rapaz judeu, a história se passa em uma das cidades mais gays do mundo: Tel Aviv. Felizmente, ao contrário desse outro filme, Além da Fronteira não chega a ser tão fatalista e melodramático. Afora isso, e taí o grande mérito do filme, os dois personagens protagonistas parecem ter camadas a mais que não o reduzem à função dos opostos que se atraem.
Nimer é um prodígio estudante de psicologia que consegue, em algum momento, um visto para estudar durante alguns meses numa faculdade em Israel. Antes disso, porém, ele cruza essa borda clandestinamente, interessado em aproveitar o que a cidade tem de melhor a lhe oferecer: a noite. Numa balada, ele conhece Roy, um advogado filhinho de papai. Os dois começam um relacionamento e a construção da afetividade entre ambos é delicada e sincera. Lindos, eles parecem modelos de cuecas Calvin Klein. A beleza plástica do casal chega a ser quase tão alheia ao mundo real quanto a ilusão de que problemas sérios não se abaterão sobre o futuro desse relacionamento.
Michael Mayer filma bem comportadamente. Os abraços, beijos e o sexo são educados. Até quando entram na piscina, à noite, sem ninguém por perto, eles não se despem completamente. Nesse ponto, parece até uma história da Disney, o que não deixa de ser interessante se pensarmos que um filme com personagens gays também possa se usar do artifício do estritamente “fofo”. O problema surge mesmo quando essa ingenuidade do casal toma o roteiro na hora em que ele precisa solucionar seus conflitos.
A maneira como Mayer decide fazer isso chega a ser bobinha e pueril, cheia das reviravoltas improváveis. Não que eu estivesse esperando aquele desastroso final explosivo de The Bubble, mas também não imaginava que dois personagens tão bem construídos ao longo do filme terminassem se curvando aos clichês que só o ponto de vista do falso assistencialismo poderia dar.