:: Filme na programação da Mostra SP ::
“Tem que começar em algum lugar. Tem que começar em alguma hora. Tem lugar melhor do que este? Tem momento melhor do que agora?”
Riocorrente não é apenas um filme, é também um coquetel molotov. Um que explodiu, partiu o cenário ao redor e me deixou a pergunta: ainda é possível colar os tais caquinhos do velho mundo? Não sei responder, e acho que o filme não procura essa resposta. O que ele quer mesmo é provocar a angústia, o incômodo, nos tirar do lugar do conforto de que as coisas são como são. De que o sistema vai se autogerir sem fissuras ou gritos.
Nesse sentido, Paulo Sacramento faz uma obra tão profética que dá até medo. Quando este filme começou a ser feito, não havia pessoas com cartazes ou máscaras nas ruas das grandes cidades do país, não havia black bloc ou os “baderneiros” e “vândalos” da Globo News. Não que o filme seja sobre isso, até porque não é. Mas em sua montagem muito bem orquestrada sobre essa violência represada com tudo que nos gerencia – do amor ao emprego, do relógio ao trânsito – ele alimenta um mal-estar que só pode mesmo acabar em incêndio.