A Garota do 14 de Julho, de Antonin Peretjatko

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:: Filme na programação da Mostra SP ::

O primeiro longa-metragem de Antonin Peretjatko é um petardo de gás hilariante que vai cair no seu colo no início, meio e fim da sessão. Absurdo, nonsense, apaixonado, acelerado, nouvelle vague. Se todas essas palavras couberem num liquidificador, então é essa daí a vitamina do dia.

Aliás, referências não faltam nessa comédia que passou pela Quinzena de Realizadores em Cannes deste ano. Achamos no caminho não apenas as moças de Godard, mas aqueles personagens de uma ingenuidade louca presentes nos filmes dos irmãos Zucker (mais conhecidos por Apertem os Cintos, o Piloto Sumiu e pela franquia Todo Mundo em Pânico). Tem espaço até pro DeLorean de De Volta para o Futuro.

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Grand Central, de Rebecca Zlotowski

Grand Central

:: Filme na programação da Mostra SP ::

Ele é novo na região. Ao lado de outros jovens com formação escolar precária, conseguiu emprego numa usina nuclear francesa. As pessoas se preocupam com a radiação. E numa noite para que todos compartilhem uma cerveja e brindem o começo de um dos trabalhos mais insalubres entre todos os ofícios, ela surge. A desconhecida o puxa da cadeira, lhe dá um beijo e diz algo mais ou menos assim: “Você sentiu tudo aí. O coração acelerado, as pernas tremendo, a visão turva. Isso é a radiação”.

E pronto, claro está que Rebecca Zlotowski quer fazer um paralelo entre o amor e a contaminação química do corpo. São em igual medida o “inimigo invisível”. Mas como não bastasse apenas essa frase, a diretora pesa a mão ao deixar pistas demais ao longo do filme sobre sua tese. Esquecendo que, para bom entendedor, apenas um beijo basta.

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Nada de Mau Pode Acontecer, de Katrin Gebbe

Tore

:: Filme na programação da Mostra SP ::

No título original em alemão, o nome do filme é o nome do personagem principal: Tore Tanzt. Os americanos rebatizaram a história como Nothing Bad can Happen, traduzido ao pé da letra aqui no Brasil. As horas se passaram depois da sessão e vejo que há um erro bobo, porém determinante, nessa adaptação do título. Troquem Nada de Mau Pode Acontecer por O Mal Pode (Não) Acontecer e a ideia do trabalho de Katrin Gebbe começa a fazer real sentido. Não é do Mau, mas do Mal de que estamos falando. E em Tore Tanzt ele não existe para poder existir. Entendam, não é a presença do Bem, mas a ausência do Mal no protagonista o elemento perturbador desse filme.

O personagem em questão é um jovem que comunga de um, digamos, sub-plot cristão com o nome de Jesus Freaks. Não tem família, casa ou passado. Tem apenas uma mochila de roupas, epilepsia e a certeza absoluta de que Jesus está com ele e nada o faltará. Sua crença na bondade dos outros parece ser inabalável. Mas muito mais do que isso, sua certeza de carregar ele próprio essa bondade é inflexível. Em determinado momento, o jovem cruza com uma família. Como retribuição a um favor “celestial” de Tore (Julius Feldmeier), Benno (Sascha Alexander Gersak), o pai da família, convida o rapaz para comer da sua comida, dormir sob o seu teto. Típica narrativa bíblica.

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