Nada de Mau Pode Acontecer, de Katrin Gebbe

Tore

:: Filme na programação da Mostra SP ::

No título original em alemão, o nome do filme é o nome do personagem principal: Tore Tanzt. Os americanos rebatizaram a história como Nothing Bad can Happen, traduzido ao pé da letra aqui no Brasil. As horas se passaram depois da sessão e vejo que há um erro bobo, porém determinante, nessa adaptação do título. Troquem Nada de Mau Pode Acontecer por O Mal Pode (Não) Acontecer e a ideia do trabalho de Katrin Gebbe começa a fazer real sentido. Não é do Mau, mas do Mal de que estamos falando. E em Tore Tanzt ele não existe para poder existir. Entendam, não é a presença do Bem, mas a ausência do Mal no protagonista o elemento perturbador desse filme.

O personagem em questão é um jovem que comunga de um, digamos, sub-plot cristão com o nome de Jesus Freaks. Não tem família, casa ou passado. Tem apenas uma mochila de roupas, epilepsia e a certeza absoluta de que Jesus está com ele e nada o faltará. Sua crença na bondade dos outros parece ser inabalável. Mas muito mais do que isso, sua certeza de carregar ele próprio essa bondade é inflexível. Em determinado momento, o jovem cruza com uma família. Como retribuição a um favor “celestial” de Tore (Julius Feldmeier), Benno (Sascha Alexander Gersak), o pai da família, convida o rapaz para comer da sua comida, dormir sob o seu teto. Típica narrativa bíblica.

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