3X3D, de Peter Greenaway, Edgar Pêra e Jean-Luc Godard

3x3d

:: Filme na programação da Mostra SP ::

E aquela articulação entre tempo e espaço, por onde anda essa velha amiga? É a pergunta que Godard se faz naquele que, de longe, é o melhor entre os três curtas a criar ensaios sobre o cinema 3D, suas possibilidades, limites e, acima de tudo, como bem pontuaria o sempre anarquista diretor francês, a “ditadura do digital” que se ergue no horizonte.

Narrado pelo próprio Godard (e ele aparece brevemente em um superclose nervoso), o curta parece ser um aperitivo do que vem aí no próximo filme do diretor, filmado em 3D: Adieu au Langage. Em bom português: Adeus à Linguagem. Não precisa dizer que Os Três Desastres, nome de seu mais recente experimento, se faz de um discurso apocalíptico que prenuncia um cinema 2D relegado, fisicamente e metaforicamente, à sombra.

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Depois da Chuva, de Cláudio Marques e Marília Hughes

Depois da Chuva

:: Filme na programação da Mostra SP ::

Ao revisitar a vida privada da senhora História, uma produção bem recente do cinema nacional tem revelado questões muito íntimas sobre o corpo político brasileiro diante do espelho. E está fazendo isso de um jeito tão confortável em sua reflexão que chega a ser curioso como qualquer cenário e qualquer tempo se torna o cenário e o tempo de agora, deste preciso momento. Quase tudo pode ser contemporaneizado. Nesse contexto, Depois da Chuva chega a ser um prolongamento do debate que surge (ainda que bem mais debochadamente) em Tatuagem, de Hilton Lacerda, no que diz respeito a olhar a política pelas lentes do homem e o homem pelas lentes da política.

Sem mais comparações, estamos diante de um filme vivo em várias das questões que põe sobre a mesa. Neste caso, as mesas de uma sala de aula de alguma escola particular de Salvador, onde meninos brancos de classe média emulam relações de poder que estreitam com ironia a dinâmica entre um grêmio estudantil e qualquer estrutura do poder executivo federal. No entanto, mais vivo ele seria se tivesse cuidado maior em estabelecer não apenas o peso dos personagens em cena, como a fluência das ações previstas no roteiro. Depois da Chuva tem vários momentos incríveis que, de uma hora pra outra, com um corte, perdem força e ritmo.

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