Gravidade, de Alfonso Cuarón

Gravity

O novo filme do mexicano Alfonso Cuarón é um daqueles títulos que para sempre serão lembrados na história do cinema por ter criado um novo paradigma de efeitos especiais. Tal como um dia foi Viagem à Lua, de Meliés, em 1902. Pois agora, 111 anos depois, Cuarón decide jogar o homem em nova viagem espacial para dar, ele próprio, seu grande salto na arte do ilusionismo. E que salto.

Estamos falando de um filme pipocão, escrito nos moldes Syd Field dos dois pontos de virada, três atos, lição de moral, sentimentalismos e o combo inteiro de uma história que aperta os botões certos para disparar nossas reações mais imediatas. Ruim? Sim e não. “Sim” se você quiser levar mesmo esse filme a sério como uma questão filosófica a lidar com temas do tipo renascimento, corpo, lar. Nesse aspecto, ignorem qualquer comparação com 2001, o filme de Kubrick. “Não” se você entender que Gravidade é tão-somente um excelente filme de ação com imagens nunca dantes navegadas pelo cinema. Cenas que irão te fazer contorcer dentro da sala.

Continuar lendo

Serra Pelada, de Heitor Dhalia

serra pelada (1)

:: Filme de encerramento do Festival do Rio ::

No fundo, a cor de barro e terra que cobre homens em um gigante garimpo. Sobreposto, o título do filme, Serra Pelada, preenchido por cenas de arquivo de um azul desbotado, com telejornais anunciando uma nova alvorada da caça ao ouro no Brasil no sul do Pará. As letras crescem e tomam logo a tela inteira. Com grandiloquência e plasticidade, anunciam a partir de imagens reais o trabalho mais monumental de Heitor Dhalia. Monumental no sentido do tamanho de ser um longa de muitos cenários abertos com centenas de figurantes, tomadas de helicóptero e, claro, a direção de arte de uma produção de época. Essa abertura toda garbosa diz muito do que é este mais novo trabalho de Heitor Dhalia: estamos diante de um filme moreno, alto, bonito e sensual. Mas a exemplo dos tipos que reúnem todas essas qualidades, o embrulho é muitas vezes disfarce para problemas sérios que existem ali dentro.

Resgate fictício importante de um período histórico no Brasil quando, no começo dos anos 80, criou-se nessa região o maior garimpo a céu aberto do mundo, o filme de Dhalia é vigoroso nessa tentativa de dar identidade visual ao que antes a gente só lembrava por algumas fotos de Sebastião Salgado ou mesmo pelo filme dos Trapalhões em 82. Usa esse cenário como pano de fundo para a história de dois amigos que saem de São Paulo decididos a ficarem ricos em Serra Pelada. São eles Juliano (Juliano Cazarré) e Joaquim (Júlio Andrade). Como já sabemos, graças a um plano fechado na cara de Juliano logo na primeira cena do filme, que as coisas não saíram exatamente como planejado, é de se esperar todo tipo de conflito que irá surgir desse sonho dourado.

Continuar lendo