A Gangue, de Miroslav Slaboshpitsky

The Tribe

:: Especial Mostra SP ::

A Gangue, grande vencedor da Semana da Crítica em Cannes este ano, já se anuncia formalmente distinto em seu primeiro e ˙único letreiro: “Esse filme é todo expresso em linguagem de surdos-mudos. Não tem, intencionalmente, qualquer legenda ou voz em off”. Construiremos nós os significados de todos os diálogos silenciosos do filme. Essa estratégia se mostra bastante conveniente para um diretor que, do começo ao fim, esgota seu trabalho na ideia de que a forma – nosso completo desconhecimento da linguagem em cena – dará o sentido, leia-se, a sensação de estranhamento e desconforto de quem assiste ao filme e projeta esses mesmos sentimentos no personagem protagonista.

Este é um adolescente novato enviado para uma escola exclusiva de surdos-mudos, onde passará por rituais de iniciação para participar de uma gangue que comete delitos e agencia as duas únicas personagens mulheres do filme, não à toa, ambas jovens prostitutas. O longa de estreia do ucraniano Miroslav Slaboshpitsky cria um modelo esquemático, fincado em uma série de longos planos-sequência meticulosamente coreografados, aliados a cenas de violência gráfica muito pensadas para chocar, mas sem real função para desenhar o caráter de quem os encena.

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Entrevista: Marjane Satrapi (Gangue dos Jotas)

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Recentemente, graças a uma matéria que fiz pra Harper’s Bazaar, tive a excelente oportunidade de conversar com a diretora Marjane Satrapi, pessoa que eu admiro desde que virei a primeira página de Persépolis, história em quadrinhos autobiográfica pela qual ela ficou famosa no mundo inteiro. Essa premiada HQ se transformou em uma animação dirigida pela própria Marjane em 2007 e chegou a concorrer ao Oscar. Em 2011, uma segunda HQ, também com pegada autobiográfica, chegou aos cinemas: Frango com Ameixas (exibido na Mostra SP daquele mesmo ano). Agora, Marjane volta à programação da Mostra com um filme liberto de tudo: de ser uma adaptação e, principalmente, de ser preso àquelas tabelas rígidas de um calendário de filmagens. A Gangue dos Jotas é uma comédia sobre uma mulher que consegue cooptar dois jogadores de badminton para perseguir uma suposta gangue de mafiosos conhecidos como Os Jotas: José, Juan, Javier, Júlio, Jorge e Jesus. Segundo Marjane, foi filmado quase que completamente no improviso. Abaixo, transcrevo a entrevista completa com alguém que não cansa de rir de si mesma e, quando possível, dos outros.

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