Dos vários problemas que este filme tem, e não são poucos, um parece ser o teto que abriga todos os outros: a ausência de um argumento. O documentário de Nascimbeni se assemelha a um trabalho feito sob encomenda, para servir de algum tipo de panfleto sobre uma África “feminina” ou algo do gênero. Mas sem estabelecer uma abordagem específica, sai atirando para todos os lados e vira uma grande colagem de depoimentos e imagens que não se conectam. E para um filme cujo título invoca esse sentido de “rede”, não se conectar é um problema seríssimo.
O que é uma pena, de verdade. Posto que o filme tem em mãos um tempo precioso com algumas das mais importantes vozes desse gigante continente: Leymah Gbowee, vencedora do Prêmio Nobel da Paz; Graça Machel, política e ativista e esposa de Nelson Mandela; Nadine Gordimer, Nobel de Literatura, entre outras.
As vozes dessas mulheres, no entanto, não se costuram e não se dialogam posto que o filme:
- Tem a pretensão de dar conta da África como se fosse um país do tamanho de Portugal
- Intercala esses depoimentos com imagens clichês da África “selvagem” e “tribal” que, curiosamente, é criticada na entrevista com uma jovem antropóloga que está nesse filme
- Usa a narração de Zezé Motta como uma tentativa de dar coerência à ausência de um roteiro melhor cuidado (e o faz com um texto que parece ter saído da redação do Globo Repórter)
- Objetifica (e isso é imperdoável) as mulheres ao fazer um recorte aleatório de figuras que surgem no filme apenas como decoração: exemplo maior é o da atleta da África do Sul, Tebogo Masehla, que sai correndo pra lá e pra cá por diferentes (e óbvias) paisagens “africanas”. Ela não fala, ela não significa. Está ali apenas para servir como remendo entre cenas
Tendo isso posto, mais uma vez, é uma lástima que um filme com personagens tão incríveis se perca e clame para si esse título de “rede invisível”, posto que, sim, existem tantas e diversas redes de mulheres trabalhando desde tempos imemoriais no continente africano.