O bom selvagem que tripudia do sistema. E o faz com toda a elegância que só têm aqueles que observam o centro por seus sítios marginais. A história desse jovem delinquente que sacode a poeira e dá a volta por cima é um filme, sobretudo, delícia de se ver. Por seu talento em mudar o lugar de voz da lição de moral, por entender que não existe tenacidade que resista ao afeto e principalmente pela ideia de que, se os fins realmente justificam os meios, há aqui uma mensagem subversivamente positiva e irônica dessa inteligência e malícia de pertencer às ruas.
Os closes das primeiras cenas do filme, fechados em personagens que, em comum, têm a localização (um tribunal de Justiça) e alguns crimes meia-boca, sugerem que nessas pessoas não pode haver nada além de seus erros. Sem contexto, sem lente panorâmica, elas são todas iguais, meio estúpidas, meio ignorantes e socialmente fracassadas. E aí Ken Loach sabiamente encerra esse prólogo e começa o filme de fato. Agora com a câmera aberta, ele passa a jogar os entornos para falar dessas pessoas. Gente com quem logo estabelecemos simpatia porque, claro, somos um pouco elas.
A ironia daquela boa e velha luta de classes passeia tranquilona por todo o filme: na figura de Harry (John Henshaw, o engraçadíssimo Meatballs do igualmente delicioso À Procura de Eric), um tipo de tutor que logo se torna o Ao Mestre, Com Carinho do grupo de pequenos infratores que precisa prestar serviços comunitários não muito relevantes; na inserção do uísque como o elemento que irá distinguir a inteligência adquirida da inteligência orgânica e, finalmente, no ator principal (Paul Brannigan), que estreia no cinema interpretando uma versão de si próprio – Brannigan, antes do filme, tinha uma pequena ficha corrida de delitos menores. Não deixa de ser um charme a mais.
Em suma, Ken Loach, seu socialista <3