Lukas, o Estranho, de John Torres + O Foguete, de Kim Mordaunt

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Cena de Lukas, o Estranho

:: Filmes na programação da Mostra SP ::

Tomei a licença de juntar esses dois títulos em um mesmo texto porque eles não poderiam ser mais diferentes entre si ao tratar basicamente de um mesmo personagem central: menino de algum ermo ecossistema rural a quem se atribui poderes sobrenaturais, construídos socialmente por lendas e folclores de suas respectivas comunidades. Com esse protagonista em comum temos dois cinemas de polos opostos.

A começar por Lukas. É um desses filmes que dá vontade de assistir com um retrovisor do lado. Para acompanhar simultaneamente o que se passa na tela e a imediata reação daquilo no público que está ali atrás de você. Vou começar então pela imagem que “ouvi” lá de trás: impacientes pernas cruzando e descruzando, pessoas mudando de posição na cadeira, suspiros, passos de gente saindo da sala e, por fim, com os créditos subindo, comentários recheados de palavras que sua mãe não lhe ensinou. Naturalmente há exceções, mas estou tentando dar conta da “zeitgeist” da sala como um todo. Aliás, nessa audição, é preciso dar crédito ao próprio som da sala, muito abaixo do volume normal, o que possibilitou uma participação maior dos ruídos externos.

Agora, a imagem que vi na minha frente: fotografia lavada, às vezes fora de foco, estouradas, cenas de filmes antigos e corroídos, homens e mulheres que de perto ou de longe se enquadram em cenários distantes. Escutamos a voz de uma mulher por todo o filme. No começo, ela promete contar como as coisas aconteceram: das razões por que o homem deixou sua família, do motivo pelo qual a mulher ficou tão triste e o que havia na caixa que cruzou o rio. Ela quer contar essas histórias pra Lukas, mas precisa fazer isso de um jeito que ele nunca se esqueça delas.

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