Praia do Futuro, de Karim Ainouz

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Dois dos mais famosos poemas brasileiros falam sobre os caminhos imaginados de quem quer partir e de quem, tendo partido, deseja a todo custo voltar. Manuel Bandeira projetava seu exílio numa Pasárgada idílica onde seria, sobretudo, amado. Gonçalves Dias, por sua vez, clama à uma deidade que sua morte não venha antes que ele possa pisar novamente na terra das palmeiras onde canta o sabiá. Sair ou voltar de onde se nasce, seja para dentro ou fora deste país, é um tema que persegue nossa consciência nacional. Faz parte de nosso capital cultural a sensação de estar simultaneamente arraigado e deslocado de sua terra. Transitamos entre.

É esse o lugar do novo filme de Karim Ainouz. Aqui, ele faz do meio do caminho o único caminho possível. Não estranhamente, essa história começa e se encerra com longos percursos de homens em cima de motos. Estamos diante da ausência de pessoas que parecem nunca saber exatamente onde estão porque o trajeto é um fim em si mesmo. Mas essa ausência, como diria outro poeta brasileiro, Drummond, não é falta. É um estar. Praia do Futuro é a presença latente do vácuo. Tudo que estar por vir é, na verdade, aquilo que já foi embora. O futuro de Karim é um ensaio sobre esse ato de esvaziar e a possibilidade de que, assim, tudo se preencha novamente. Tal como um mar que, na Alemanha, se seca em algum momento do dia. A água vai voltar, e o mar se refazer. Quanto aos homens, não necessariamente eles concluem esse ciclo.

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