Tudo se dá da seguinte forma: a sequência inicial nos mostra uma garota em situação de vulnerabilidade que somente uma mulher pode sentir. Sozinha, em uma cidade-deserto, ela é filmada por uma câmera que prevê a tragédia. E isso, de fato, ocorre. Desse primeiro assassinato, surge uma narrativa guiada por alunas de uma escola na Barra da Tijuca, o bairro não-cidade do Rio de Janeiro. As meninas começam a construir histórias em cima daquela e das subsequentes mortes de outras meninas cujos corpos aparecem nesse mesmo terreno baldio cercado por um horizonte de condomínios assépticos e onde ali perto também acontecem cultos pop-evangélicos. Está tudo dado pelo recorte do filme: garotas estupradas e assassinadas + ironia sobre alienações religiosas + a câmera que abre a lente para filmar os espaços vazios da Barra da Tijuca, com estações de ônibus que mais parecem cenários distópicos pós-apocalípticos. E quando tudo aponta para uma alegoria do terror que é ser adolescente nesse ambiente onde apatia, alienação e violência se tornam rima, eis que o filme começa a se soltar de todo e qualquer conteúdo político que, porventura, pudesse ser lido nele. E tudo fica muito confuso.
Mas o que poderia ser sintoma de uma reação dela a esse ambiente neurastênico que tudo cerca, e aí sim haveria uma sequência coerente na abordagem política que o filme toma para si num primeiro momento, particularmente no que diz respeito à violência contra a mulher e ao cenário urbano desumanizado pensado como projeto de desenvolvimento, termina se desencaixando de qualquer propósito, seja em nome de uma possível leitura política, seja no campo formal do gênero de terror. O que acontece é que meninos também começam a aparecer mortos nesse terreno baldio, os corpos dos alunos da escola surgem em algum momento machucados, quebrados, a câmera lenta no melhor estilo Meninas malvadas tenta ironizar situações que não parecem irônicas e de Bia pode-se esperar tudo: audácia e medo, amor e ódio, tesão e apatia. A personagem vira uma gangorra emocional errante em um ambiente nervoso. Tal como o desfecho do filme, Bia se torna em algum momento o fantasma de sua própria ideia e o que antes parecia estar ali para servir de epítome de uma adolescência urbana neurótica, termina soando vago demais, de um vazio que não reflete sobre si próprio.