O Jardineiro, de Mohsen Makhmalbaf

Jardineiro

:: Filme na programação da Mostra SP ::

Diálogo dos primeiros minutos de O Jardineiro:
Mohsen Makhmalbaf, o pai: “Cinema é extensão dos nossos olhos, não das nossas lentes”.
Maysam Makhmalbaf, o filho: “Se só a percepção é importante, pra que fazer filmes?”

Para um documentário que se pretende questionar e entender por que as pessoas adotam uma religião como norte moral, é bem sintomático que Makhmalbaf, alguém que sempre colocou a própria arte do cinema em xeque, conteste de cara seu ofício de cineasta. De tal forma que os conflitos ideológicos entre ele o filho nunca são apenas sobre cinema ou apenas sobre religião. A diferença do olhar de cada um diante do material humano que se coloca diante deles é a grande questão. E que por isso devoção pode ser algo tão relativo quanto um recorte do olhar.

O filme começa com uma tomada de um corredor no imenso e garboso jardim Baha’i, religião que foi perseguida no Irã depois da Revolução Islâmica, em 1979. Na primeira narração em off, o diretor deixa claro: ele é agnóstico. O território em que está entrando lhe é estranho em todos os aspectos. Surge daí o primeiro atrito entre ele e o filho. Como cineasta, Makhmalbaf vai atrás da imagem, do plástico, da contemplação e faz isso sem julgar o objeto observado. Seu filho, por outro lado, se lança em direção a esse mesmo objeto com valores, e não se permite tirar dele seu sentido deontológico.

A esclarecer que os Baha’i misturam elementos de várias religiões, mas fundamentalmente pregam existir uma unidade espiritual da humanidade e não possuem dogmas ou cleros. São estranhamente otimistas em relação a essa humanidade e não carregam aquele tom censor de religiões como o Cristianismo ou o Islamismo. As pessoas daqueles jardim vão receber os Makhmalbafs de braços abertos.

O que cada um desses dois homens decide filtrar/filmar dentro dessa comunidade faz parte de uma discussão maior que o filme provoca sobre o papel da religião na vida das pessoas, e o que elementos como tecnologia e o próprio cinema têm a ver com isso.

Em nota de rodapé: porque apresentou este documentário em julho deste ano no Jerusalem Film Festival, Makhmalbaf, que é um expatriado, se viu protagonista de uma confusão no Irã. Javad Shamgdari, diretor da organização oficial de cinema do Irã, demandou que todos os prêmios já dados ao diretor pelo seu trabalho no Irã fossem retirados dele. ““Makhmalbaf fez os seus primeiros 10 filmes usando o dinheiro do Irã. Agora ele caiu nos braços do ocupador, o regime assassino sionista”, escreveu Shamgdari.

Se as guerras são santas, mais uma vez fica claro que os filmes são sagrados.

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