:: Filme na programação do Festival do Rio ::
Filme badalado, presença confirmada de um dos nomes mais famosos hoje do mundo (Gleen Greenwald, um dos dois jornalistas que publicaram as informações de Edward Snowden sobre o sistema de vigilância da NSA sobre o mundo inteiro) e um protagonista jovem e bonito (e com a aura de jornalista independente) também disposto a conversar com o público. A primeira sessão de Guerras Sujas no Brasil era dessas com fila que ia lá longe pra fora do cinema. O “auê” se justificou durante e após a sessão.
Por motivos completamente distintos: primeiro porque o filme tem sim um conteúdo super importante, inédito, jornalístico e muitas vezes chocante e segundo porque, enquanto cinema, ele é sintomático a esse estilo pop-americano dos documentários de protagonistas-narradores-heróis. Ainda bem, porque se Guerras Sujas tivesse o conteúdo que tem com um cinema mais sério em estilo Corações e Mentes, eu não sobreviveria a esta sessão.
Serei curta, portanto. Guerras Sujas é necessário de se ver. A quantidade de informação que o repórter Jeremy Scahill coleta durante o filme, e as filmagens que Rick Rowley faz de todos esses anos de apuração de dados em lugares como Iraque, Afeganistão, Iémen e Somália (com exceção do Iémen, todas as demais “locações” deste filme foram de altíssimos risco pra ambos repórter e câmera) impressiona não apenas pelo volume, mas pela ordem bastante simples e lógica do argumento que ele vai construindo no doc: a de que os Estados Unidos se retroalimentam de guerras e que, para tanto, estão dispostos a matar indiscrimidamente, preventivamente (a lógica Minority Report exterminando crianças e adolescentes) e onde quer que seja (mesmo em países com os quais eles não estão em conflito bélico).
O grande problema do filme é que ele cai em praticamente todas as armadilhas de um documentário nos moldes clássicos da publicidade. Conversei um pouco após a sessão com Jeremy Schahill e ele me garantiu que a decisão de colocar ele mesmo sempre em exposição – as reações de Jeremy ao que ele vê são sempre captadas – foi uma decisão do diretor e que o próprio Jeremy se incomoda com essa superexposição de sua presença. A coisa toda piora nos minutos finais do filme, quando ganhamos o combo imagens em câmera lenta, trilha sonora chorosa e, mais grave que tudo isso junto, a utilização da imagem de Jeremy, o repórter desbravador, como um cara bonzinho, preocupado, que dá as mãos às vítimas. Não carecia tudo isso.
De qualquer forma, reitero, é um filme necessário de se ver. Levanta discussões sobre esse estranho e quase apocalíptico cenário de vigilância em que vivemos. Quando tiver mais tempo, coloco aqui neste post alguns dos depoimentos mais interessantes ditos por Jeremy e por Gleen Greenwald durante a conversa pós-sessão.