Salvo, de Fabio Grassadonia e Antonio Piazza

salvo

:: Filme na programação do Festival do Rio ::

Os primeiros 15, 20 minutos deste filme valem por um semestre inteiro de qualquer aula sobre como fazer cinema. A fotografia, a luz, os movimentos de câmera, os planos-sequência, a montagem e, sobretudo o som – gente, o som – crescem na tela como se estivéssemos no ato final de uma ópera. Os músculos contraem, os olhos abrem, a respiração fica em suspenso. Estamos hipnotizados, o mundo lá fora inexiste, cumpre-se a função imersiva do cinema.

O filme de Fabio Grassadonia e Antonio Piazza, premiado pela crítica em Cannes este ano, é cinema da cabeça aos pés, e podem acreditar que isso pode ser dito de poucos filmes hoje em dia. Essa sequência inicial envolve tiros à queima roupa e dá conta da introdução à história de um matador à caça de uma presa. Entre ele e seu alvo há uma jovem mulher, a irmã do procurado. Rita, ela se chama. É cega. E o que podia se tornar mais uma dessas “experiências sensoriais” com trilhas difusas e confusas do ponto de vista de quem não enxerga, vira um trabalho com força de faca, sem barroquismo, porém com o volume lá em cima.

Salvo é o prolongamento de um curta-metragem feito também por Grassadonia e Piazza. Neste primeiro filme, a protagonista (e nome do curta) é Rita, uma menina cega cuja rotina é perturbada pela inesperada presença de um menino que rompe sua casa adentro. No longa, o fundamento do ruído e da invasão é o mesmo, mas agora parte do personagem masculino. Cria-se a partir daí mais uma clássica relação tensa entre algoz e vítima, relação esta que vai alterar a estrutura primária desses mesmos personagens ao longo do filme, num movimento de roteiro arriscado e acertado. Aliás, o argumento maior de Salvo é justamente esse: o encontro entre essas duas pessoas, o assassino e a cega, romperá com essa essência original de ambos.

A representação da máfia italiana, cujos reis vestem moletons Adidas, a ambientação do cativeiro em que a moça cega é colocada e mesmo a pouca interação entre o protagonista e os donos da pensão onde ele se hospeda: tudo é filmado com a mesma precisão dos poucos e diretos diálogos da história. Um filme de raríssimos excessos.

O ator principal é o já conhecido israelense Saleh Bakri, o professor charmoso em A Fonte das Mulheres (2011) e o galã de farda azul no muito meigo filme egípcio A Banda (2007). Em Salvo, Bakri prova que é um ator também de corpo. A tensão nele se torna a tensão de tudo que o cerca. E será apenas com o relaxamento desse corpo que teremos alguma possibilidade de desfecho.

Confira aqui a agenda do filme no Festival do Rio

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