O pós-sessão dos filmes indicados ao Oscar em 2013

Os 30 minutos que se passam logo depois que você sai de uma sessão de cinema. Para falar dos filmes que concorrem ao Oscar este ano opto pela tentativa de dar um panorama desses primeiros momentos de luz após a imersão de horas (em alguns casos, este ano, quase três horas) na sala escura. E mesmo que amemos odiar essa premiação, ela ainda parece ser inevitável em nossas agendas e, de certa forma, ainda rende uma temporada interessante de filmes nesse tempo de fim e começo de ano. Portanto, a quem interessar possa, foram assim os meus 30 primeiros minutos depois da sessão de…

Haneke dirige Emannuelle Riva e Jean-Louis Trintignant

Michael Haneke dirige Emannuelle Riva e Jean-Louis Trintignant. Triozinho da pesada.

Amor – Destruída, atropelada e interrompida pela realidade de um amor que, de tão cru, é possível demais (das possibilidades que nos assustam). Meu coração saiu se arrastando tal qual fazem as sandálias de Anne (Emmanuelle Riva) pelo chão de taco da casa que ela divide com o marido. O chão onde os pássaros caem. As paredes que penduram telas impressionistas sem contornos, sem certezas. Haneke, mais uma vez – ainda não ter perdoei pelas sequelas que ficaram de Caché, muito menos pelo tapa da Professora de Piano – me desconcerta em seus acertos.

Ben Affleck, o diretor e herói da história

Ben Affleck, o diretor e herói da história

Argo – Tá… então é isso aí? Ben Affleck tá bonitão e tal, mas seu trabalho como diretor era bem mais honesto naquele outro filme com título de Supercine: Atração Perigosa (do qual genuinamente gosto). Preciso admitir, no entanto, que a impressão pós-sessão foi severamente prejudicada por uma cena completamente desnecessária no bloco final do roteiro, quando um grupo de policiais iranianos praticamente se fantasia daquele famoso personagem Disney, o Pateta, para nos fazer acreditar que os americanos nem precisam ser assim tão espertos para driblar a parca inteligência inimiga. O filme tem seus momentos bons (sendo os diálogos e a barba de Ben Affleck alguns deles), mas me pareceu neste momento que sua pretensão em ser um sabido sério e sisudo (com direito às imagens documentais nos créditos finais) não se encaixava com as soluções bobas de roteiro em transformar toda a história em um thriller. A sensação perdura. Principalmente depois que li isso aqui.

Fotografia do chileno Claudio Miranda arrasa

Fotografia do chileno Claudio Miranda arrasa

As Aventuras de Pi (3D) – Poxa, que imagens bonitas né? Mas deixa eu tirar logo esses óculos que a vista cansou.

Jamie Foxx é o novo vingador de Tarantino

Jamie Foxx é o novo vingador de Tarantino

Django Livre – Melhor abaixar a cabeça e fingir compromisso urgente, porque sei que todo mundo saindo dessa sessão vai surtar de felicidade e gozo. Ok, é um filme muito, mas muito bem filmado mesmo. E tudo tá no lugar certo: os atores, a trilha e o sangue. Mas quer saber? Vinganças por vinganças, ainda acho que Tarantino sabe fazer melhor quando são as mulheres – A Noiva, o quarteto do segundo bloco de À Prova de Morte e Shosanna que o digam – que partem para a briga. E outra, o filme pode ser lindo e tal, mas vai dizer aí que você não já sabia tudo que ia se desenrolar depois dos primeiros 30 minutos de história? Enfim, saí com a sensação de ter pedido aquele prato que eu mais gosto no restaurante que mais amo. Foi tudo uma delícia, mas o sabor era aquele mesmo de sempre.

Jessica Chastain em clima de Clarice Starling

Jessica Chastain em clima de Clarice Starling

A Hora Mais Escura – PQP Kathryn Bigelow, manda o massagista aí porque a tensão pegou feio aqui nos ombros. Que história bem filmada! Entrei na sessão receosa em ser este mais um filme vítima da síndrome da bandeira estrelada, mas saí embasbacada com um roteiro todo ajustado (parabéns Mark Boal) e uma montagem apenas espetacular que mais provoca do que afirma, mais sugere do que determina e no fim de tudo, deixa aquele gosto amargo na boca de que, em tempos de guerra, não existem heróis, só gente dodói da cabeça mesmo. E a personagem de Jessica Chastain – cada vez melhor essa moça – é de uma força tão extraordinária em seu deslocamento num ambiente onde só existem machos-alfas que lembra a Clarice Starling de Jodie Foster em O Silêncio dos Inocentes. E gente do céu, o que é aquela sequência final filmada quase toda com a lente dos óculos de visão noturna? Que edição brilhante. Eu já nem lembrava que o povo estava ali procurando Osama Bin Laden. A cada corte de cena, meu medo era de que absolutamente tudo desse errado. Um medo totalmente domado pela câmera. Perfeito domínio de tempo, srta. Bigelow. Tá de para.

Adivinha só quem a grande fera dessa imagem?

Adivinha só quem a grande fera dessa imagem?

Indomável Sonhadora – O nome dela é Quvenzhané Wallis. Se pronuncia assim: GIGANTE! Saí da sala com a clara sensação que é na tela de cinema que vive essa menina, uma criança pixototinha (como se diz na minha terra), mas que não parece sair dessa dimensão agigantada do cinema, como que nascida para ter um rosto com seus 5 metros de super close. E o mérito em transformar essa menina nessa fera “indomada” é de Benh Zeitlin, diretor que faz um filme-fábula – todo câmera na mão – para nos apresentar a uma história de sobrevivência poética, tentando se esquivar ao máximo do melodrama (ainda que naturalmente ele ceda ao pianinho aqui e ali). Penso que será legal um dia vê-lo novamente ao lado de Onde Vivem os Monstros. Das crianças e dos bichos-papões que a gente nunca esquece.

Jennifer Lawrence tenta tirar o melhor de Bradley Cooper

Jennifer Lawrence tenta tirar o melhor de Bradley Cooper. E até consegue…

O Lado Bom da Vida – Como eu saí? Achando Jennifer Lawrence ainda mais linda do que já achava, Bradley Cooper ainda mais qualquer coisa do que já achava e Robert DeNiro ainda mais foda do que nunca e do que sempre. Quanto ao filme, bem, junte Pequena Miss Sunshine com Dirty Dancing e você terá isso aí, algo entre personagens bem construídos em famílias disfuncionais e um desfecho musical-redentor. Tem cenas legais e Jennifer Lawrence arrasa muito (as usual), mas não vão me convencer de que há algo aí além de um drama em falsete para levar alguém naquele primeiro encontro das mãos que se encontram na pipoca. Mas se isso já é suficiente pra você, vai com fé nessa sessão. Você sairá dela exatamente como todo mundo: óinnn. E só.

Daniel Day-Lewis rumo ao terceiro Oscar

Daniel Day-Lewis rumo ao terceiro Oscar

Lincoln – Não, eu não dormi na sessão. Tendo isso dito, o novo de Spielberg acerta no mesmo lugar onde erra. Acerta porque não concede ao padrão hollywoodiano do filme que precisa se encaixar à inteligência simpsoniana, e erra porque, em não fazer essas concessões, ele se deixa encantar pelos diálogos que são tão brilhantes quanto infinitos e, em alguns momentos, chatos – e filmados como se chatos fossem. Sorte é que tem Daniel Day-Lewis como o flautista que nos leva pelos intricados corredores desse período histórico de tensão racial na América – nesse sentido, a dobradinha com Django é interessante. Aliás, no tópico abolição da escravidão na América, achei bem interessante isso aqui.

Hugh Jackman e Anne Hathaway. Sofrimento com rima da Boradway

Hugh Jackman e Anne Hathaway. Sofrimento com rima da Broadway

Os Miseráveis – Não, eu não dormi na sessão. Mas bem que poderia. C’est tout.

Obs1.: Um dos melhores filmes desta temporada, que rendeu a indicação a Melhor Ator, Melhor Ator Coadjuvante e Melhor Atriz Coadjuvante respectivamente para Joaquin Phoenix, Philip Seymour-Hoffman (sempre assustador de bom em cena) e Amy Adams, O Mestre foi (ao lado da falta de indicação da srta. Bigelow ao Oscar de Direção) o grande esnobado do Oscar este ano. Mas a gente entende. Bulir com essa coisa de manipulação ideológica nunca foi a praia do povo da Academia. Paul Thomas Anderson, eles não merecem falar contigo nem com teu anjo.

Obs2.: Eu realmente queria que Frankenweenie levasse o Oscar de Animação. O do meu coração ele já ganhou (Tim Burton recebeu de bom grado).

2 respostas em “O pós-sessão dos filmes indicados ao Oscar em 2013

  1. Apesar dos problemas que você citou – e toda a fuga do aeroporto acho muito bem filmada, mas estica o suspense para além do necessário – eu acho Argo o filme mais interessante desses nove, muito pela direção segura de Affleck e pelo roteiro. Amor vem logo atrás. Não achei A Hora Mais Escura isso tudo. Curto bem a cena final, mas ela está pro filme como a cena inicial de Resgate do Soldade Ryan: uma cena incrível em um filme só razoável. De resto, concordo bem contigo. Fico de cara como tanta gente comprou o Aventuras de Pi.

  2. Acho Argo o melhor dos nove por conta da direção e roteiro, apesar de esticar o suspense na cena final além da conta. Pi é uma xaropada mesmo; A Hora Mais Escura eu acho a sequencia final ótima, mas só ela; e Amor é incrível, mas fica como meu vice-Oscar. De resto, é por aí mesmo.

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